Com a greve, Santa Maria pode ter ano letivo concluído só em 2026, dizem Sindicato e Secretaria de Educação

Com a greve, Santa Maria pode ter ano letivo concluído só em 2026, dizem Sindicato e Secretaria de Educação

Foto: Vinicius Becker (Diário)

O primeiro dia de greve nas escolas municipais de Santa Maria foi de baixa adesão, mas com promessa de intensificação nos próximos dias. Enquanto o Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria (Sinprosm) debatia, na sede do sindicato, os próximos passos, pelo menos quatro das 39 escolas consultadas pela Secretaria de Educação estavam sem aulas até as 11h20min desta quarta-feira (5). Por conta das últimas paralisações e da atual greve, as aulas podem terminar somente em 2026, segundo a secretária adjunta de Educação, Adriana Bonumá, e o próprio sindicato.


Até o final da manhã desta quarta, eram quatro escolas com aulas suspensas e outras 10 com atividades parciais. Das 86 instituições de ensino do município, 39 retornaram os questionamentos da Smed, que tenta fazer o balanço do impacto do primeiro dia. O Diário visitou quatro delas: a Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Luiz Victor Sartori; Emef Dom Antônio Reis; Emef Duque de Caxias e Casa da Criança Darcy Vargas. Todas tinham aula normal, porém, o cenário pode mudar nos próximos dias.


Casa da Criança Darcy Vargas

A partir da próxima segunda-feira (10), as aulas serão suspensas por tempo indeterminado na escola de Educação Infantil. São cerca de 300 crianças, com idades entre 1 e 5 anos, atendidas por 23 professoras. Para a diretora da escola, Márcia Beck, as aulas só não foram suspensas nesta semana por conta de formaturas já agendadas nos os anos iniciais. Com portas fechadas na próxima semana, o objetivo é buscar por direitos que a diretora considera cada vez mais defasados com a nova reforma previdenciária do município.


Há 15 anos trabalhando com a Educação Infantil e na mesma escola, a diretora faz um desabafo sobre a carreira:

– Eu gostaria que alguém viesse aqui na escola passar um dia — não digo anos, como nós, 15 ou 16 —, mas um dia numa turma integral de bebês, sozinho, atendendo 18 crianças. Trocando fralda, pegando no colo, dando banho, dando alimento e fazendo a parte pedagógica, porque ninguém fica aqui o dia inteiro sem fazer nada. É tudo planejado. As professoras têm o plano de aula delas e seguem aquilo. Então, não é assim: chegar, largar numa sala de aula e deixar ali o dia inteiro. Não. Não é assistencialismo. Nós não somos uma rede de apoio. Somos educação. Isso tem que entrar na cabeça das pessoas, porque acham que a Educação Infantil é para cuidar das crianças. Não é isso. É um direito da criança, da educação, mas aqui não é um depósito. Aqui é para eles irem socializando e entrar no mundo da alfabetização por meio do lúdico e das brincadeiras. As pessoas têm que entender que é trabalhoso, é difícil.


Emef Dom Antônio Reis

Na escola localizada no Bairro Nossa Senhora Medianeira, a diretora Loiva Marques destaca que o funcionamento continua total nesta quarta-feira (5). Mesmo com a paralisação parcial de quatro professores, as aulas não foram suspensas. Sobre o impacto das paralisações no calendário acadêmico, a diretora não descartou o avanço das aulas para janeiro do ano que vem.

– Impacta muito. Nós vamos entrar em janeiro adentro recuperando aula. Então, vai atrasar o ano. Era um assunto que nós tratamos aqui na escola e já estamos nos programando para isso – afirma.


Emef Dom Luiz Victor Sartori

Afetada por quase 10 ocorrências de roubos de fios ao longo deste ano, a escola, que fica no Bairro Nonoai, está remanejando as aulas para sábado para cumprir os 200 dias letivos e as 800 horas-aulas que devem ser garantidas. Além dos roubos, as paralisações também atrasaram o período letivo. Para a mãe de uma criança autista, o desafio é a falta de rotina.

– Quebra a rotina dele, o que é muito complicado. Ele tem que seguir uma rotina certinha todos os dias. Desregula tudo, ele fica alguns dias sem ir na escola, e quando retorna, já volta alterado. Complica bastante para ele esses dias que não tem aula – comenta Ana Laura Batista de Goes, 34 anos.


Greve pode estender calendário letivo para janeiro de 2026

A secretária adjunta de Educação de Santa Maria, Adriana Bonumá, afirmou que, caso haja adesão total em algumas escolas, o calendário letivo poderá ser estendido para janeiro de 2026. Adriana explica que o calendário escolar deste ano já havia sido estendido para o final de dezembro, devido a paralisações pontuais anteriores. A previsão inicial de encerramento era 17 de dezembro.


– Essa data teve que se estender para recuperar, porque temos que garantir os 200 dias letivos e as 800 horas previstas. Então, estendeu-se esse calendário e, hoje, temos um encerramento previsto até o final de dezembro, entre o Natal e Ano Novo – afirmou a secretária adjunta. Segundo ela, antes da greve, a nova previsão era de conclusão em 29 de dezembro.


Com a nova greve, iniciada nesta quarta-feira, o calendário fica novamente ameaçado. Caso o ano letivo avance para 2026, a secretária adjunta admite que o período de férias dos alunos poderá ser reduzido, embora o calendário do próximo ano ainda esteja em construção e com previsão de retorno para o final de fevereiro. Adriana destacou que a principal preocupação da pasta é com o impacto pedagógico para os estudantes, especialmente nesse período de avaliações externas.


– É uma preocupação acompanhar o desenvolvimento e a aprendizagem desses alunos e garantir que tenha o mínimo de prejuízos possível. A gente está numa época de finalização do Saeb, essa semana. Na próxima semana, temos a Avaliação da Fluência em Leitura nos segundos anos, e logo em seguida temos a aplicação das provas do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers). Temos a preocupação de garantir que os alunos possam estar em atendimento para realizar essas avaliações – disse a secretária.


Diálogo e orientação aos pais

A secretária adjunta afirmou que o diálogo com o sindicato dos professores é "constante" e que a pasta se atém à sua função pedagógica e de gestão de pessoas. Ela orientou os pais e responsáveis a buscarem informações diretamente com as direções das escolas.

– Em relação às famílias, a gente orienta que sempre procurem as escolas. As escolas já estão tomando a iniciativa de orientar via redes sociais, em comunicação direta com as famílias, se vão ter o atendimento aos alunos ou não. A secretaria segue à disposição – concluiu.


Sindicato confirma que greve pode "invadir 2026" e organiza vigílias na Câmara contra a reforma

O Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria (Sinprosm) confirmou que a greve da categoria, iniciada nesta semana, poderá "invadir 2026". Em entrevista nesta quarta-feira (5), o comando de greve detalhou a estratégia do movimento, que inclui vigílias na Câmara de Vereadores e visitas às escolas para ampliar a adesão contra a proposta de reforma da previdência municipal.


Segundo o sindicato, o momento agora é de organização da greve, diferentemente das paralisações pontuais ocorridas anteriormente.


– Nosso movimento, agora, é de greve, então, é de construção e nós vamos aumentando essa adesão no decorrer dos dias. A greve vai ter mobilizações diárias centradas mais aqui no centro de Santa Maria mesmo, na praça, na Câmara de Vereadores, intensificando essa conversa com a comunidade e um outro braço indo para as escolas – explicou a coordenadora de comunicação do sindicato, Celma Pietczak.

​A estratégia do Sinprosm inclui uma "banca permanente" na praça e vigílias na Câmara de Vereadores às terças e quintas-feiras, dias de sessão.


– É lá naquele espaço que o projeto vai ser discutido, é lá que vai acontecer a votação – afirmou Celma.


O comando de greve também está organizando uma plenária com a categoria para analisar os pontos considerados mais graves da proposta que afetam o futuro dos professores.


Sobre o impacto da greve no calendário escolar, o sindicato confirmou a possibilidade de as aulas avançarem para o próximo ano. O Sinprosm garante, no entanto, que o direito dos alunos será preservado.

– O movimento grevista precisa garantir o direito do estudante, que são os 200 dias letivos e as 800 horas. Então, essas horas serão repostas para os nossos estudantes. Isso também é um compromisso dos professores. Então, sim, se a nossa greve se prorrogar, pode ser que o ano letivo invada 2026. Isso é uma possibilidade que existe – concluiu.


Relembre: os motivos da greve

Em protesto contra a proposta de Reforma da Previdência protocolada pela prefeitura na Câmara de Vereadores, o sindicato decidiu que após 48 horas do protocolo oficial a greve estaria em vigor. O Sinprosm classifica o projeto como "injusto" e "tecnicamente frágil", afirmando que ele penaliza os servidores pela "má gestão" do déficit do IPASSP. Segundo o sindicato, a proposta aumenta o tempo de contribuição, eleva as alíquotas e reduz garantias dos servidores, especialmente de aposentados e mulheres. 


A entidade também acusa a Secretaria de Educação de tentar coagir diretores de escolas a informarem o número de grevistas, o que configura, segundo o Sinprosm, prática de coerção e afronta ao direito constitucional de greve.


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